TORPEDO # 57 - A confirmação de uma nova estrela de ação
“Entre Montanhas” é uma superprodução para o streaming que aproveita muito bem a força de Anya Taylor-Joy nos filmes de aventura
STREAMING
Tem Anya Taylor-Joy? Então tem que assistir
“Entre Montanhas” estreia hoje (14) na AppleTV+. É um filme de ação sci-fi com produção pesada, que poderia tranquilamente arriscar sua sorte nos cinemas. Mas a plataforma está realmente apostando alto na sua produção original. Esse novo filme está na mesma prateleira de “Lobos”, lançado há alguns meses com George Clooney e Brad Pitt emprestando sua imensa popularidade a um lançamento de streaming. Na verdade, o que difere “Entre Montanhas” da produção habitual para o cinema em casa é a presença de Anya-Taylor Joy. Aqui ela tem seu primeiro papel de protagonista depois de “Furiosa: Uma Saga Mad Max”, que foi o passaporte da atriz para o primeiro time das estrelas femininas. Com seu rosto singular, de olhos expressivos, ela chamou a atenção desde os primeiros trabalhos. Hoje seus novos fãs procuram nos arquivos de streaming suas atuações mais antigas, como uma das garotas raptadas em “Fragmentado” (2016), de M. Night Shyamalan, ou no papel da campeã de xadrez esquisitona na minissérie “O Gambito da Rainha” (2020). Ao emendar “Entre Montanhas” depois de “Furiosa”, parece clara a opção dela por filmes de ação. Seus próximos trabalhos são o thriller “Sacrifice”, ao lado de Chris Evans, centrado no plano de um grupo radical que pode matar milhares de pessoas num evento, e a série “Lucky”, em que ela interpreta uma mulher que deixa a cadeia, tenta levar uma vida tranquila, mas acaba voltando ao crime. Provavelmente irá continuar nessas produções a performance física que impressiona em “Entre Montanhas”.
Ela contracena com Miles Teller, um ator que vive um momento totalmente diferente em sua carreira. Enquanto Anya sobe como um foguete, ele abusou de chance de escolher maus trabalhos depois de despontar no ótimo “Whiplash” (2014), como o jovem baterista sofrendo nas mãos do instrutor durão. Teller participou da fracassada encarnação anterior do “Quarteto Fantástico”, perdeu tempo em comédias fracas como “Cães de Guerra” (2016), esboçou alguma reação como coadjuvante em “Top Gun: Maverick” (2022), e agora tem no filme da AppleTV+ uma chance de retomar o trilho certo. Na trama, os dois são agentes especiais, supertreinados, que não se conhecem. Circunstâncias diferentes fazem com que os dois sejam escalados para monitorar, separadamente, duas torres de vigilância diante de um desfiladeiro misterioso. Nenhum deles sabe direito o que tem ali embaixo. Cada guardião das torres de vigilância recebe instruções claras para não entrar em contato com quem está nas outras torres. Bem, é óbvio que Drasa e Levi não só vão se conectar, eles vão se apaixonar. Então eles descobrem que sua missão na verdade não é impedir alguém de entrar no desfiladeiro, mas sim evitar a fuga daquilo que está lá no fundo. E aí o filme cumpre uma certeira cartilha de ficção científica. A dupla de atores mostra uma boa química, o filme segura a situação de mistério por um bom tempo, e a solução final... bem, uns vão gostar, outros, não. Mas é o destino de todo filme de sci-fi delirante. Neste caso, tanto faz, porque a obrigação mesmo é ver Anya Taylor-Joy em sua escalada em Hollywood. Confira aqui o trailer.
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STREAMING
“A Juíza do Inferno” é sonho pop descontrolado
Série sul-coreana lançada no Disney+, sem nenhum alarde, “A Juíza do Inferno” foi ganhando visibilidade aos poucos, provavelmente por uma boa divulgação boca a boca. E a mistureba corre solta. Tudo bem, está classificada como mais um dorama, mas basta assistir a um de seus 14 episódios para perceber que também é romance, comédia, fantasia e terror. Tudo isso numa embalagem pop de visual belíssimo, com elementos de animação e histórias em quadrinhos. Tudo é cheio de cor, num tom onírico. A ideia do roteiro é que existem vários tribunais no Inferno. Dependendo do currículo do morto que aparece por lá, ele passa por uma dessas cortes para determinar o seu castigo eterno. O coordenador desses tribunais está cansado do comportamento negligente de uma de suas juízas e resolve punir a magistrada infernal fazendo com que ela assuma um corpo humano, passando algum tempo na Terra. Assim, ela vai ocupar o corpo de Kang Bit-na, uma jovem juíza que acaba de morrer em circunstâncias não bem explicadas. Tendo a chance de trabalhar numa corte terrena, a juíza decide fazer justiça com as próprias mãos. Seu comportamento no tribunal é muito engraçado, e ela conhece o detetive de polícia Han Da-on, jovem e cheio de vontade de fazer os criminosos pagarem por seus crimes. Um pouco sem entender o que está acontecendo, ele é recrutado para ser um executor. Então o cenário é esse, e os roteiros são bem bacanas. Um casal bonito como Park Shin-hye, atriz de sucesso desde a adolescência, e Kim Young-ok certamente cria a expectativa de um romance, claramente fadado ao fracasso se ele descobrir com quem está se metendo. “A Juíza do Inferno” é uma diversão em embalagem pop, puro escapismo. Eis aqui o trailer.
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LIVRO
A divina decadência de Los Angeles
O escritor Bret Easton Ellis, best-seller mundial com o polêmico e violento romance “O Psicopata Americano”, comentou numa entrevista sua admiração por Eve Babitz: “Se você ler pela primeira vez um livro de Eve e sua vida não mudar radicalmente, você provavelmente já está morto”. Os livros de Eve Babitz (1943-2021), tanto ficção ou não ficção, são carregados de experiências autobiográficas. E pouca gente tem uma vida tão cheia de expediências como essa californiana que foi jornalista, artista plástica e uma locomotiva de aventuras boêmias na Los Angeles dos anos 1960 e 1970. Filha de uma pintora e de um violinista da orquestra que gravava as trilhas dos filmes da 20th Century Fox, ela teve como padrinho de batismo o gigante clássico Igor Stravinsky (1882-1971). Ainda adolescente, era amiga inseparável de Jane Fonda. Aos 20 anos, ganhou a eternidade ao ser fotografada por Julian Wasser jogando xadrez nua com o artista Marcel Duchamp (1887-1968), na imagem que foi chamada “o retrato da arte moderna americana”.
No final dos anos 60, passou a desenhar capas de álbuns de grandes nomes da música da época, como Buffalo Springfield, James Taylor e The Byrds. Embora repetisse inúmeras vezes que nunca tinha sido dependente de qualquer homem, muita gente se lembra dela como namorada de famosos, num time que tinha o cantor Jim Morrison, do Doors, o comediante Steve Martin e um ainda iniciante no cinema Harrison Ford. Nos anos 1970, ela começou a escrever e aí ganhou respeito geral. Suas reportagens e contos de ficção foram parar nas páginas das principais revistas do planeta, como “Vogue”, “Rolling Stone”, “Esquire” e “Cosmopolitan”. Vieram os livros, carregados de autoficção, o que rendeu comparações a Joan Didion. Hoje, talvez a comparassem com Annie Ernaux. Em 1997, ela teve sérias queimaduras no corpo depois de um acidente com um fósforo que caiu sobre a meia-calça que ela vestia. Eve praticamente parou seu trabalho. Em 2010, as editoras americanas resolveram apostar na reedição de seus livros, que gerou uma nova fase de reconhecimento tardio para a autora, que morreu aos 78 anos sofrendo da doença de Huntington. O selo Amarcord lança agora no Brasil “Dias Lentos, Encontros Fugazes”, original de 1977, que mostra em histórias curtas o decadente circuito de celebridades em Hollywood. Depois de ser uma referência cultural mundial nos anos 1960, como a Paris dos anos 1920 e 1930, Hollywood então perderia seus moradores talentosos e famosos para a cena de Nova York, que iria ser a nova capital cultural americana. Os textos de Eve Babitz são vigorosos, intensos, crus até osso. A sensação que passa é que a vida intensa da autora deixa todas as outras um verdadeiro marasmo. Um livro arrebatador.
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STREAMING
Não deixe “Black Doves” passar batida
Quanto falta uma semana para o Natal, o mundo (pelo menos o mundinho classe média brasileira) esquece de todos os seus hábitos seguidos pelo resto do ano. Até a ressaca do Réveillon, a rotina é quebrada por festas da firma, reuniões de família e viagens muito aguardadas. O editor desta newsleeter aprendeu no ano retrasado que não vale a pena produzir disparos nesse período, ninguém lê. Por isso, talvez a incrível série britânica “Black Doves” possa ter passado batida para muita gente. A Netfllix disponibilizou a produção nesse período, no fim do ano passado. É uma pena, porque é sem dúvida uma das melhores séries da temporada e merecia o maior público possível. O grande trunfo dessa série policial está no caprichado grupo de personagens envolvidos numa trama de assassinos profissionais. Keira Knightley é Helen Webb, mulher do secretário de Defesa britânico. A história começa quando três amigos são assassinados na mesma hora, em três lugares diferentes de Londres. Um deles era amante de Helen. Se isso já poderia ser comprometedor, ganha outra dimensão quando a trama revela que ela é na verdade uma agente dos Black Doves, uma agência particular de espionagem que trabalha para o governo que pagar o melhor preço. Ela espiona o marido sob comando de Reed, uma mulher enigmática, veterana que às vezes tem um ar protetor e outras vezes é implacável. Depois dos assassinatos, ela acredita que Helen pode estar correndo perigo e chama de volta a Londres um matador profissional, Sam Young (o excelente ator britânico Ben Whishaw). Ele já havia trabalhado para o Black Doves e foi quem ensinou Helen a ser uma espiã. Ele passa a acompanhá-la para garantir sua proteção, mas a agente só quer saber de investigar o caso e se vingar de quem matou seu amante. Para complicar as coisas, o casamento de Helen está em crise, enquanto Young tem que lidar com os problemas que ele deixou sem solução na relação com um namorado londrino. E ele também tem contas a acertar com uma mulher que certa vez o contratou, não gostou do serviço e agora coloca duas matadoras profissionais bem jovens atrás dele. As duas meninas são as personagens mais engraçadas da história toda. O número de reviravoltas é sensacional e nenhuma ponta fica desamarrada. É um roteiro excelente, que sabe explorar cada um dos personagens ao máximo. Aquele caso raro de uma série que deixa o espectador chateado quando está chegando aos últimos capítulos. Uma segunda temporada, por favor! Confira aqui o trailer da série.
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O MUNDO JÁ FOI MELHOR # 57
Fotos comprovam: a Terra foi habitada por gente muito bacana
Sting faz shows no Brasil por esses dias. Hoje no Rio, no domingo (16) em São Paulo, e na terça (18) em Curitiba. Em suas quase quatro décadas de carreira solo, esta é a fase em que ele mais inclui canções do Police nos shows. Talvez toque até uma dezena delas. Por muito tempo, ele queria mostrar que seu trabalho solo era tão bom ou melhor do que os discos seminais do trio que fez com Andy Summers e Stewart Copeland. Bobagem. The Police é um nome entre os maiores da história do rock. Mas a passagem de Sting provocou a lembrança do lendário show do Police no Maracanãzinho, em 1982. O editor da newsletter, aos 19 anos, estava lá, depois de encarar a Dutra de ônibus. A casa não ficou cheia. O Police tinha lançado seus quatro primeiros álbuns, já tinha hits de balde, mas ainda soltaria seu disco mais contundente, “Synchronicity”, que saiu no ano seguinte. Há algo engraçado nesse show no Rio. Com “Synchronicity”, a banda realmente virou gigante, e muita gente que não esteve no show, que teve pouca divulgação e não foi televisionado, começou a dizer por aí que esteve lá. Um desses fenômenos difíceis de explicar. Mas, se todo mundo que diz ter estado no Maracanãzinho naquele dia realmente tivesse aparecido por lá, o show precisaria ser transferido para o Maracanã. Enfim, para fãs de palavra ou um pouco mentirosos, o Police foi mesmo genial.
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Putz, acho que essa sul-coreana vai ter que ser minha entrada nos doramas.