TORPEDO # 59 - VALE ESTE - Hollywood é capaz de rir de si mesma?
Seth Rogen escreve, dirige e faz o papel principal em “O Estúdio”, minissérie que mostra cenas patéticas e cínicas dos bastidores da indústria cinematográfica
STREAMING
Seth Rogen retrata Hollywood com humor cínico
Seth Rogen é um workaholic. Ele entrou para o primeiro time da comédia em Hollywood com “Ligeiramente Grávidos” e “Superbad: É Hoje”, dois estouros inesperados de bilheteria em 2007. De lá para cá, ele se envolveu em mais de 60 projetos como ator, dublador e produtor. Depois de descobrir que tinha facilidade para dublar, emprestou sua voz a inúmeras animações de sucesso, como “King Fu Panda”, “Super Mario Bros.”, “Os Simpsons” e “O Rei Leão”. Segundo ele, um modo mais fácil de ganhar dinheiro para produzir seus filmes. No currículo, sucessos como “Casal Improvável”, com Charlize Theron, e fracassos como “O Besouro Verde”. Sua carreira sobreviveu até ao cancelamento de seu melhor amigo no show business, James Franco, um ex-astro que perdeu todas as chances por comportamento tóxico. Recordar sua trajetória é importante para entender como ele está à vontade na nova minissérie da AppleTV+, que já teve dois ótimos episódios lançados. “O Estúdio” traz Rogen como Matt Remick, que assume o comando de um grande estúdio. Ele criou a série com ajuda de mais quatro roteiristas, dirigiu sete dos dez episódios e usou toda a bagagem que acumulou nos bastidores do cinema para escrever algumas conversas cínicas simplesmente sensacionais. O elenco é poderoso. Sua mentora é a executiva que o precedeu no comando do estúdio, papel da ótima Catherine O’Hara, de “Beetlejuice”, “Esqueceram de Mim” e a incrível série “Schitt’s Creek”. Figura adorada entre os colegas, Rogen conseguiu reunir uma constelação para participar em pequenos papéis na séria. O “dream team” tem atores como Bryan Cranston, Zoë Kravitz, Charlize Theron, Olivia Wilde, Zac Efron e Steve Buscemi, além de atuações de cineastas badalados como Ron Howard, Zack Snyder e, uau!, Martin Scorsese. Pelo texto muito engraçado, pelos coadjuvantes famosos e pelo inegável carisma de Seth Rogen, “O Estúdio” é uma aula sobre o lado cômico e patético da indústria do cinema. Veja aqui o trailer.
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MÚSICA
Miya Folick inova o pop entre força e leveza
Depois o final de fevereiro, quando a cantora californiana Miya Folick lançou seu terceiro álbum, “Erotica Veronica”, ficou bem difícil encontrar por aí uma canção tão bacana quanto “Erotica”. Os assinantes da TORPEDO mais afoitos a boas novidades musicais podem até interromper por alguns instantes a leitura na newsletter e clicar aqui para ouvir “Erotica” e conhecer também o clipe para lá de esperto criado para a música. Miya tem 35 anos, vem de uma família na qual se cruzam linhagens americana e japonesa, costuma ser classificada como indie pop ou indie foolk, rótulos que não dizem nada, e tem dois álbuns anteriores que valem a pena: “Premonitions” (2018) e “Roach” (2023). Estão ali um punhado de boas canções, mas os discos têm caras bem distintas. Enquanto o álbum de esteia é mais roqueiro, agitado, o segundo vai num rumo mais tranquilo, baladeiro. O bom agora é que “Erotica Veronica” mistura as duas vertentes no melhor trabalho de Miya. È um clichê dizer isso, mas a definição cai bem: o álbum parece um “greatest hits”, traz muitas faixas com carimbo de sucesso. Basta conferir os clipes de “Alaska”, “Felicity” e “Fist” (clique nos títulos para acessar os vídeos). Se nos dois primeiros discos a cantora e compositora reservou algumas canções para levantar uma bandeira queer, no disco novo ela deixa de ser tão explicitamente panfletária e, ao fazer isso, torna ainda mais incisiva sua defesa da liberdade sexual. As letras evoluíram demais, e as sutilezas marcam versos poderosos e às vezes divertidos, mesmo que sua temática ronde muito as desilusões amorosas, os fins de amor e a descoberta das mentiras nas relações. Assim, entre o humor e a melancolia, entre o pop e rock, entre a força e leveza, Miya Folick é uma das grandes apostas no pop de 2025.
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TORPEDO Sebo é uma lista de livros, discos de vinil, CDs, Blu-ray e DVDs que eu estou colocando à venda, num exercício duríssimo de desapego. São mais de 1.000 itens, em ótimo estado. Quem quiser conferir o que está disponível deve mandar um e-mail para thales1962@gmail.com, e eu envio a lista para os interessados.
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STREAMING
O terror sem freios avança nas bilheterias
A expressão que os americanos estão usando para definir o fenômeno é “free-wheeling terror”. Algo como “terror de roda solta”, ou “terror sem freio”. A coisa ganhou corpo com “A Substância”, o terror repleto de exageros que ganhou as bilheterias no ano passado e revigorou a carreira de Demi Moore. Violência explícita, corpos deformados, personagens completamente insanos e um roteiro que não se preocupa em instante algum com a veracidade do que está sendo mostrado na tela. Quem procura a origem do subgênero regride mais um pouco para chegar em “Piscina Infinita” (2023), estrelado por Mia Goth (“MaXXXine”) e dirigido por Brandon Cronenberg, o filho maluquinho do pai malucão David Cronenberg. Como a fruta nunca cai longe da árvore, é um filme que chega a ser desagradável em alguns momentos. Mas é tão insano que fica impossível largar na metade. Agora, a bola da vez: “Acompanhante Perfeita”, disponível no Prime Video. Para usar uma expressão popular, o diretor e roteirista Drew Hancock não tem o menor senso de ridículo. Na história, um grupo de jovens amigos decide passar o final de semana numa cabana no campo. Uma série de circunstâncias improváveis acaba revelando que Iris, supostamente a namorada de Josh, é na verdade um robô que ele comprou para servir a seus interesses sexuais. Ela vem de fábrica com uma memória implantada em seu cérebro eletrônico, e até o momento da revelação Iris sempre acreditou ser uma pessoa de verdade. Aí a coisa descamba para violência e mais violência. E vem a grande surpresa: para quem não ligar muito para os absurdos sucessivos, o filme diverte muito. E tem a presença forte de Sophie Thatcher, de “Herege” e da série “Yellowjackets”. Como “Acompanhante Perfeita” está repetindo o sucesso de “A Substância” tanto no cinema como no streaming, esse novo terror não deve parar por aí. Veja o trailer aqui.
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CINEMA
Volta às telas o anárquico e desafiador “Onda Nova”
O ano era 1983. O Brasil ensaiava deixar a ditadura militar para trás, mas ainda não era possível eleger um presidente nas urnas. No Corinthians, os jogadores influenciados pelo craque politizado Sócrates decretavam a Democracia Corintiana, movimento que propunha romper com práticas retrógradas nos clubes profissionais de futebol. Nos cinemas, alguns jovens diretores que passaram pela Escola de Comunicação e Artes da USP conseguiam produzir seus primeiros longas, usando profissionais e equipamentos que vinham da efervescência do ciclo de pornochanchada da década anterior, a turma da chamada Boca do Lixo. Isso tudo junto, somado ao avanço de questões comportamentais e sexuais antes dos efeitos do contágio por Aids que viria em pouco tempo, está reunido em “Onda Nova”, uma comédia que foi ganhando ares de “cult movie” com o passar do tempo e retorna aos cinemas depois de 42 anos! O filme é escrito e dirigido por dois nomes vindos da ECA, José Antônio Garcia (1955-2005) e Ícaro Martins. A parceria produziu uma espécie de trilogia do novo cinema indie paulista da época, com “O Olho Mágico do Amor” (1982), “Onda Nova” (1983) e “A Estrela Nua” (1984). Todos estrelados por Carla Camurati, musa da dupla.
“Onda Nova” é o mais anárquico dos três. Mostra a criação de um time de garotas, o Gayvotas Futebol Clube. São várias histórias cruzadas das meninas lidando com o preconceito contra o futebol de mulher. A goleira, por exemplo, é a muito engraçada Cristina Mutarelli, que enfrenta a oposição da mãe, interpretada pelo ator cômico Patricio Bisso, argentino então radicado no Brasil e fazendo sucesso na TV como a sexóloga Olga Del Volga. O elenco tem as atrizes Tânia Alves, Regina Casé e Vera Zimmermann, além de um punhado de participações especiais. Rodado no Corinthians, o filme incorporou ao elenco Pitta, no papel do treinador das meninas, Vladimir, nome consagrado na história do Timão, e um muito jovem Casagrande, que protagoniza cena de sexo com uma das jogadoras. O radialista Osmar Santos também aparece. Mas a cereja do bolo está na cena na qual uma das garotas da turma, que é taxista, faz uma corrida com Caetano Veloso e uma tiete. O cantor e sua fã têm uma transa rápida no banco de trás, para delírio da motorista. “Onda Nova” é libertário e escrachado, e retorna ao cinema restaurado e remasterizado em 4K. Uma grande chance para as pessoas entenderem por que o filme incomodou a censura da época, que proibiu por um tempo sua exibição nos cinemas logo após a estreia de “Onda Nova” na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 1983. A canção-tema do filme, “Gayvotas Futebol Clube (Onda Nova)”, escrita e cantada pela gaúcha Laura Finocchiaro, que também interpreta uma das jogadoras, acaba de ser relançada como single nas plataformas digitais. Confira aqui o trailer do filme.
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O MUNDO JÁ FOI MELHOR # 59
Fotos comprovam: a Terra foi habitada por gente muito bacana
Alguns afirmam que esta imagem é da primeira sessão de fotos que o The Who fez depois da formação da banda, em 1964, mas um biógrafo afirma que houve uma outra antes dessa. De qualquer maneira, impressiona a cara de menino do baterista Keith Moon, à frente dos outros. Ele tinha 17 anos! O vocalista Roger Daltrey, de paletó claro, e o baixista John Entwistle, ao fundo, estavam com 20 anos. O guitarrista e dínamo da banda, Pete Townshend, ainda tinha 19. Dá para imaginar esses moleques construindo parte da história pop, inventando a tal de ópera-rock e ainda sendo relevantes 60 anos depois do disparo do fotógrafo?
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