TORPEDO # 60 - Jane Fonda, psicodelia e sexo em um só filme
“Barbarella” é um marco da contracultura no cinema, criando uma heroína espacial com aventuras guiadas por lances sexuais num filme influenciado por HQ
STREAMING
Jane Fonda vai ao espaço e a coisa esquenta
Existem filmes que são louvados por “envelhecerem bem”. Mostram que são histórias atemporais que continuam interessantes ao público de qualquer época. Por outro lado, outros filmes envelheceram demais, se mostram totalmente desassociados da percepção estética atual. Mas alguns desses continuam sensacionais exatamente por causa disso. É o caso de “Barbarella”, de 1968, uma ficção científica recheada de humor, visual cafona e e uma carga erótica direcionada para a sua estrela, Jane Fonda. então com 30 anos. Disponível na ClaroTV+, o filme é um representante muito forte de uma característica que marcava parte do cinema na época, que era a influência da narrativa às vezes frenética e muito colorida dos gibis e dos desenhos animados. “Barbarella” é praticamente uma HQ filmada. Jane Fonda interpreta uma heroína espacial que encontra vários outros personagens, quase todos muito interessados sexualmente na moça. Um deles, interpretado por John Phillip Law, um dos galãs da época, é um homem alado. Um dos vilões, papel do ator Millo O’Shea, tem o nome Duran Duran. Sim, a banda new wave de Simon Le Bon tem esse nome por causa dele. O filme tem roupas e cenários delirantes, o ápice daquilo que se convencionou chamar de “psicodélico”.
O filme é divertido, charmoso, e prova que a contracultura produziu realmente anos muito loucos na década de 1960. Fora da tela, é também farto em material para quem gosta de explorar a vida dos famosos. Jane Fonda tinha estreado no cinema americano em 1960. Muito bonita e boa atriz, além de carregar o sobrenome do pai que já era o consagradíssimo Henry Fonda, ela se transformou numa queridinha da América, Mas, em 1963, ela conheceu o cineasta francês Roger Vadim, em atividade desde a década anterior e conhecido por namorar e/ou casar com as estrelas de seus filmes. Entre outras menos cotadas, ele fez isso com Brigitte Bardot e Jane Fonda. O público americano nunca assimilou bem esse casal. Sua garotinha estava entregue aos braços de um Casanova. “Barbarella” é o quarto trabalho dela com Vadim, depois dos fracos “La Ronde” (1964) e “O Perigoso Jogo do Amor” (1966), e um episódio no filme coletivo “Histórias Extraordinárias” (1968), que tinha episódios dirigidos por Federico Fellini e Louis Malle. Jane Fonda e Roger Vadim se separaram, mas ele deixou duas marcas na carreira dela: a extravagância de “Barbarella” e o fato de ter convencido a mulher a fazer o extraordinário drama pesado “Caçada Humana”, em 1966, com Marlon Brando, que rompeu com sua imagem de mocinha bonitinha nos Estados Unidos. Aqui está o trailer de “Barbarella”.
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CINEMA
Steven Soderbergh traz nova visão do terror
“Aqui”, o filme que reuniu Tom Hanks e a patota de “Forrest Gump”, desafia a paciência do espectador com o experimentalismo de usar um único cenário e uma única posição de câmera durante o filme todo. “Adolescência”, que já seria imperdível pelo roteiro magistral e as boas interpretações, surpreende ao cumprir a façanha de filmar cada episódio da minissérie como um plano-sequência. Bem, se as ousadias formais estão na moda, funcionando bem ou não, o americano Steven Soderbergh oferece sua contribuição no esquisito e envolvente “Presença”. Ele tem dado em algumas entrevistas um relato de que o filme é baseado em algo que aconteceu com ele e sua mulher, que se mudaram para uma casa e começaram a perceber situações estranhas, típicas de filme de poltergeist. Pode até ser onda do diretor, que costuma pregar peças na imprensa e lança um filme sobre uma família que chega a uma nova casa e encontra motivos de sobra para sair de lá correndo e berrando, embora isso não aconteça. A inovação está numa câmera inventiva que desafia a percepção do espectador. Na verdade, é difícil explicar em palavras. Como Soderbergh é autor de alguns filmes simplesmente monumentais como “Sexo, Mentiras & Videotape”, “Traffic” e “Contágio”, dá para ir ver numa sala de cinema sem medo de decepção. Mas com muito medo do que vai surgir na tela. A câmera é furtiva, insinuante e traiçoeira, jogando o espectador como se estivesse ao lado dos atores e das presenças paranormais. O roteiro, como sempre, é acima da média, principalmente nesse filão manjado de terror. Mas é na câmera vertiginosa e ousada que “Presença” pode ser facilmente indicado como obrigatório. Confira o trailer aqui.
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TORPEDO Sebo é uma lista de livros, discos de vinil, CDs, Blu-ray e DVDs que eu estou colocando à venda, num exercício duríssimo de desapego. São mais de 1.000 itens, em ótimo estado. Quem quiser conferir o que está disponível deve mandar um e-mail para thales1962@gmail.com, e eu envio a lista para os interessados.…
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LIVRO
Italiano é implacável diante da juventude conectada
Italiano de 40 anos, Vincenzo Latronico é filósofo, tradutor e romancista. Sua estreia em 2008, com a ficção “Ginnastica e Rivoluzione”, causou algum barulho logo de cara. Depois de um ritmo alucinante de produção, chegando a ter quatro livros lançados apenas em 2011, ele interrompeu publicações autorais em 2013, para passar um tempo dedicado só às traduções. Seu retorno ao romance, “As Perfeições”, é de 2022 e está saindo no Brasil pela Todavia. O lançamento acabou se transformando no mais bem-sucedido livro de Latronico até agora, arrebanhando leitores tão jovens quanto seus protagonistas. Anna e Tom, casal de italianos, decide viver em Berlim, num bairro que foi adotado por uma garotada estrangeira se aventurando na Alemanha. Freelancers, ganham o suficiente para sustentar uma rotina noturna na busca por novas opções gastronômicas e sexuais. A essência do romance vai se desenvolver depois de Anna e Tom começam a se cansar da repetição de seu cotidiano alemão, depois de alguns anos em Berlim. Na discussão sobre para onde vão se mudar, o autor escancara uma geração consumista, que esconde dúvidas e frustrações debaixo de uma postura progressista na política e nas relações de trabalho. Ser jovem e livre pode ser uma vulnerabilidade numa sociedade em que o universo das redes digitais é capaz de injetar na cabeça de cada um turbilhão de opiniões e mentiras. Sem lições de moral nem soluções redentoras, Latronico entrega um livro que entra para a galeria dos retratos fiéis de uma geração. É bom torcer para “As Perfeições” ter uma boa receptividade no Brasil, para que traduções de seus livros anteriores cheguem por aqui. Ou então que venha uma edição brasileira de “La Chiave di Berlino”, lançado no final de 2023, que pegou carona no sucesso de “As Perfeições” para ser o segundo best-seller de Latronico.
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STREAMING
Dos zumbis para a violência urbana, com sucesso
O filme sul-coreano “Revelações”, disponível na Netflix, já merece uma conferida apenas por ser o novo lançamento do diretor Yeon Sang-ho, que fez “Invasão Zumbi” (2016), talvez o melhor filme de mortos-vivos desde o pioneirismo de George Romero no cinema americano. Esse filme é também muito conhecido pelo título internacional, “Train to Busan”. Mostra os passageiros de um trem tentando sobreviver durante a disseminação de um vírus zumbi por toda a Coreia do Sul. Agora, ele opta por um gênero mais tradicional do cinema sul coreano, que são as histórias policiais com uma razoável dose de violência. Mas o que chama realmente a atenção é a presença do cineasta mexicano Alfonso Cuarón como um dos produtores. Ganhador do Oscar de direção por duas vezes, com “Gravidade”, em 2014, e “Roma”, em 2019, ele decidiu passar um tempo na Coreia do Sul para conhecer por dentro a mecânica de produção cinematográfica de um país que cada vez mais distribui filmes pelo mundo. Difícil saber se ele influenciou de alguma forma o diretor, mas é certo que “Revelações” não é um thriller policial comum. O enredo une um pastor e um detetive na investigação do desaparecimento de uma garota, cada um deles com crenças bem diferentes aplicadas ao que estão fazendo, com consequências terríveis. O filme trata de como traumas passados podem afetar a vida das pessoas. Os dois personagens mergulham numa escuridão existencial sufocante, de onde jorra a violência. Um grande filme, que propõe algumas reflexões. Eis aqui o trailer.
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O MUNDO JÁ FOI MELHOR # 60
Fotos comprovam: a Terra foi habitada por gente muito bacana
Na foto acima, Steven Soderbergh e James Spader estão no set de filmagem de “Sexo, Mentiras & Videotape”, em 1988. Essa estreia da direção ganharia no ano seguinte a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O curioso é que todos os produtores e coprodutores do filme foram unânimes em aconselhar Soderbergh a dispensar Spader do projeto, porque o consideravam canastrão. Ele bancou o ator que tinha escolhido, mesmo diante de sugestões insistentes de substituição, que incluíam nomes como Andrew McCarthy, Matt Dillon e John Cusack. Spader, que até então era apenas escalado como vilãozinho em produções para adolescentes, ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes e a partir daí começou uma trajetória de filmes muitos interessantes, como “Loucos de Paixão” (1990), com Susan Sarandon, e séries de TV que incluem as sensacionais “Boston Legal” (2004-2008), ao lado de William Shatner, e “The Blacklist” (2013-2023). James Spader é mais um acerto na carreira de Soderbergh.
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