TORPEDO Biblioteca # 04 - Você quer voltar ao Rio de Janeiro antigo?
Destaque na Flip, o cronista João do Rio invade as livrarias com três obras que recuperam um dos grandes contadores de histórias cariocas
CRÔNICA
Obra de João do Rio se espalha em três lançamentos
A Flip acabou e seus efeitos começam a surgir nas prateleiras das livrarias. Um dos destaques da programação, o jornalista, escritor e cronista João do Rio (1881-1921) aparece em três novas edições, todas servindo como uma aula de história sobre a cidade do Rio de Janeiro na virada do século passado. João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto precisava mesmo de um pseudônimo um pouco mais curto para se lançar na profissão. João do Rio acabou se revelando uma escolha acertadíssima, porque ele se tornou o principal cronista de sua cidade. Em breves 40 anos de vida, ele praticamente radiografou toda a cena carioca de sua época. Ler João do Rio e complementar com a ficção de Nelson Rodrigues e os livros de Ruy Castro sobre a Bossa Nova e o samba-canção ajudam a construir um retrato quase completo da Cidade Maravilhosa em tempos prósperos. Cada obra entre as três lançadas agora tem uma caraterística diferente. “A Alma Encantadora das Ruas”, pela José Olympio, é a reedição de um livro fundamental do autor, que ganha agora comentários de Luiz Antonio Simas, mestre em História Social que tem uma obra espetacular sobre a cultura afro carioca. Sabe tudo sobre escolas de samba, religiões afro e a construção do tecido social do Rio. Se as crônicas de João do Rio são deliciosas, as observações de Simas ampliam as informações inseridas nelas. Outro livro é “João do Rio: Uma Antologia”, também pela José Olympio, que traz crônicas selecionadas pelo jornalista Luiz Martins. A terceira novidade é “João do Rio: Vida, Paixão e Obra”, biografia escrita por João Carlos Rodrigues, em edição caprichada da Civilização Brasileira. Depois de ler esse trio de livros envolventes, fica difícil não ter vontade de morar no Rio de João do Rio.
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FICÇÃO CIENTÍFICA
John Scalzi destrói com humor os clichês da sci-fi
John Scalzi é um autor americano de ficção científica que ganhou algum destaque na imprensa brasileira nos últimos tempos. Ele participou da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde mostrou ao vivo o senso de humor que transparece em suas obras. Aos 55 anos, ele se difere da maioria dos autores contemporâneos de sci-fi porque seus livros são bem acessíveis, sem que o leitor precise de um crachá oficial de nerd para entender e gostar. Ele discute política, ambientalismo, questões sociais e o mundo da cultura pop. Sua obra mais conhecida, no mundo e no Brasil, é “Guerra do Velho” (2005). No futuro, há o recrutamento de homens para viajar ao espaço e conquistar planetas habitáveis. Para encarar essa missão, os candidatos precisam ter mais de 75 anos. O herói da história é John Perry, que parte para o espaço. O livro deu origem a uma série longa. No Brasil, a editora Aleph já lançou duas caixas com as obras dessa saga. Mas o assunto aqui é o lançamento mais recente de Scalzi por essas bandas: “A Sociedade de Preservação dos Kaiju”, também pela Aleph. Publicado nos Estados Unidos originalmente em 2022, foi escrito durante a pandemia de Covid-19 e o enredo se insere nesse período. Desempregado, Jamie Gray aceita a oferta de trabalho de uma entidade que defende direitos do animais de grande porte. Ele aceita, e a surpresa vem quando descobre que irá viajar a uma dimensão alternativa da Terra e ajudar a cuidar dos Kaiju, criaturas gigantes que lembram dinossauros. Ou, melhor, os monstros gigantes que costumam aparecer para destruir Tóquio. Como babá de godzillas, Gray terá uma tarefa bem arriscada, porque outros grupos também conseguiram acessar essa dimensão alternativa, e com as piores intenções. Se alguém está cansado de clichês de ficção científica, John Scalzi é uma ótima opção.
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ROMANCE
Para aliviar a saudade de uma autora inquieta
Quando preenchia a ficha de entrada em um hotel, Fernanda Young poderia colocar naquele campo de “profissão” várias alternativas: escritora, roteirista, apresentadora, atriz ou diretora. Mesmo atuando em todas essas áreas, disse certa vez que jamais seria uma unanimidade. Estava aqui para provocar, incomodar e até irritar algumas pessoas. E havia uma reciprocidade nisso. Não é à toa que fez durante um tempo um programa de entrevistas na TV chamado “Irritando Fernanda Young”. Mas é possível falar em pelo menos duas unanimidades em relação a ela. Primeiro, que nenhuma pessoa em seu juízo perfeito resiste ao humor avassalador da série “Os Normais”. É um trabalho incrível (em parceria com o marido Alexandre Machado), mesmo entre boas séries e programas que criou, como por exemplo, a divertidíssima “Surtadas na Yoga”, na qual também atuava. A segunda unanimidade é que fica cada vez mais evidente a falta que ela faz desde sua morte em 2019, de parada cardíaca devido a uma crise de asma. Desde sua estreia, em 1996, com o romance “Vergonha dos pés”, ela escreveu mais de uma dúzia de livros que não deixam leitores indiferentes. Seu último trabalho publicado em vida, “Pós-F: Para Além do Masculino e do Feminino”, foi o primeiro em não ficção, com uma contundente discussão de gênero. Agora, quando começam a pipocar sessões do ótimo documentário de Susanna Lira, “Fernanda Young: Foge-me ao Controle”, chega às livrarias um volume com dois romances da escritora. “Chatices do Amor”, saindo pela Record, reúne “O Piano Está Aberto” e “O Livro”. No primeiro, amor e sofrimento ganham corpo na narrativa de Anna, uma mulher que tem uma relação singular com a música. O segundo nasceu do acordo proposto com sua analista, que só a receberia novamente para as sessões se ela trouxesse um texto novo. “Chatices do Amor” oferece uma sobrevida emocional a seus fãs, órfãos de uma autora inquieta, que sempre exibiu um olhar nem um pouco conformado com o mundo a seu redor.
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ROMANCE
Uma agente perdida num mundo de mentiras
A norte-americana Ashley Elston tem alguns títulos lançados para o público “young adult”. No Brasil, a Alt trouxe “10 Dates Surpresa”, um bom exemplar desse gênero. Mas o grande salto da autora foi com seu livro de estreia para o leitor maduro, saindo aqui pela Intrínseca depois de ser publicado em 20 países. “A Primeira Mentira” é uma boa notícia no mercado dos thrillers, e certamente o principal mérito da autora é a ideia inusitada para a narrativa. Ela começa contando a história de Evie Porter, que namora um cara bacana, mora numa bela casa e leva uma vida divertida com muitos amigos. Só há uma questão: Evie Porter não existe. Na verdade, a mulher por trás da identidade inventada é uma agente especial que trabalha para uma organização que “cria” pessoas. A agente recebe todas as informações necessárias sobre os amigos com quem ela deve se relacionar, um passado profissional e dados sobre a cidade onde irá atuar. Então passa bastante tempo nessa vida falsa, faz amigos e direciona suas ações para as ordens da agência. Desta vez, o objetivo é se aproximar de Ryan Sumner. E isso foi cumprido: os dois namoram e ele está completamente apaixonado. O que o leitor não sabe é qual é a intenção dela nessa missão. Mas o mundo da garota vai bagunçar bastante quando ela, como Evie Porter, é apresentada a uma mulher chamada Lucca Marino. Algo que ela jamais pensou ser possível, já que Lucca é sua verdadeira identidade. Depois de várias missões fingindo ser quem não é, encontra alguém que está se passando por ela. A partir daí, a trama segue para caminhos inesperados. Talvez a solução final não agrade a todos os leitores, mas é inegável que Ashley Elston tem uma boa usina de ideias na cabeça.
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