TORPEDO Biblioteca # 17 - O futuro agora nostálgico de Jules Verne
Criador incontestável da literatura sci-fi, o autor francês retorna às livrarias em um box com sua trilogia sobre viagem à Lua, feita de romances inventivos com espírito juvenil
FICÇÃO CIENTÍFICA
Jules Verne vai à Lua um século antes da Apollo
É sempre difícil e pouco recomendável qualificar a obra do francês Jules Verne (1828-1905), Porque é praticamente uma heresia compará-lo a outros autores de ficção científica. Verne é inquestionavelmente o pai desse gênero literário. No século 19, escreveu aventuras que mostravam inovações tecnológicas que só iriam se concretizar mais de 100 anos depois. Ele ganhou destaque pela primeira vez quando se aproximou do editor Pierre-Jules Hetzel, simplesmente o sujeito que começou a publicar um tal de Victor Hugo. A primeira obra de Verne para ele foi a aventura “Cinco Semanas em um Balão”, em 1862, narrando uma viagem aérea sobre a África. Nela, o autor já mostrava sua capacidade de inventar coisas, pois nunca tinha subido em um balão ou visitado qualquer ponto da África. Dois anos depois, ele escreveu “Viagem ao Centro da Terra”, que é considerado o marco inicial da ficção científica. Sua produção de cerca de 50 romances editados em menos de 30 anos tem obras-primas como “Vinte Mil Léguas Submarinas” (1870) e “Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1873). A Aleph lança agora no Brasil uma caixa com três romances sequenciais incríveis. O Box Jules Verne reúne “Da Terra à Lua” (1865), ambientado nos EUA depois da Guerra da Sucessão e que mostra os malucos do Gun Club de Baltimore disparando ao espaço um projétil tripulado, “Ao Redor da Lua” (1869), no qual os viajantes tentam voltar à Terra, e o até agora inédito no Brasil “Fora dos Eixos” (1889), quando os astronautas pioneiros dessa trilogia voltam a se encontrar, 20 anos depois. É uma aventura vibrante, que deixa transparecer uma euforia juvenil. Muito distante da sci-fi de hoje, encharcada de discussão estéril sobre realidades paralelas, enredos que se passam na cabeça dos personagens e a onipresente IA. Esse box é uma celebração nostálgica da criatividade humana.
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ROMANCE
O resgate da estreia de um dos últimos gigantes
Aqui não há espaço para discussão. Kazuo Ishiguro, que nasceu no Japão em 1954, mas mudou para a Inglaterra aos cinco anos de idade, é um escritor genial, certamente um dos mais brilhantes em língua inglesa nos últimos 50 anos. Ganhou o Nobel em 2017, sem a menor contestação. Quem ousar duvidar de seu talento pode mudar de opinião rapidamente ao ler obras como “Os Vestígios do Dia” (1989) ou “Não Me Abandone Jamais” (2005). Este segundo é um caso raro de livro magistral que rendeu um filme igualmente impactante, em 2010, com Keira Knightley e Carey Mulligan. No papel ou na tela, uma das obras mais importantes deste século, que começa como um drama e se transforma em ficção científica desconcertante e comovente. Mas Ishiguro é assunto aqui porque a Companhia das Letras lança uma nova edição de “Uma Visão Pálida das Colinas”, obra de estreia do autor, original de 1982 que teve seu primeiro lançamento no Brasil em 1988. A trama se passa no Japão. Uma casa abandonada na Nagasaki do pós-guerra serve de abrigo para duas mulheres. Uma, grávida. A outra, com uma filha pequena. Em penúria extrema, as duas encontram apoio numa amizade inusitada e destinada a uma jornada emocionante. Ishiguro espelha nas duas frustrações e incertezas de uma sociedade afetada pela guerra e pela ocupação de americanos no país. Um obra forte que, como todas de Ishiguro, não deixa ninguém impune, seja personagem ou leitor.
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POLÊMICA
Volume traz a metralhadora verbal de Bernhard
Minha avó Yolanda dizia que tem gente que causa problema quando abre a boca. Certamente o escritor austríaco Thomas Bernhard (1931-1989) está nessa categoria. Oficialmente, ele é autor de 19 romances e 17 peças teatrais, mas tem tanto material publicado em jornais, revistas e livros curtos, além de longas entrevistas, que é difícil estabelecer a real extensão de seu trabalho. Claro que algumas obras fundamentais como “Perturbação” (1967), “O Imitador de Vozes” (1978) ou “O Náufrago” (1983) são convites a conhecer um escritor primoroso, em fiçção, não ficção ou misturando as duas coisas sem nenhuma cerimônia. Mas a Todavia lança no Brasil um volume que pode servir de introdução a um autor tão polêmico: “Na Pista da Verdade: Discursos, Cartas, Entrevistas e Artigos”. O elaboradíssimo e envolvente texto que abre o livro foi escrito em 1954, quando Bernhard tinha apenas 23 anos, e comenta justamente um autor que demonstrou genialidade ainda mais jovem, o francês Arthur Rimbaud. Desde sempre, Bernhard dava declarações apaixonadas sobre artistas dos quais gostava, mas nenhum deles era capaz escapar de observações ácidas e implacáveis. O austríaco é um eterno revoltado, mas conseguia inserir carinho e alguma graça em seus comentários furiosos. Esses textos produzidos por mais de três décadas deixam claro como Bernhard permaneceu um intelectual indomesticável, apontando sua metralhadora na direção do que ele chamava de “mesmice e subserviência” da intelectualidade europeia. Depois de ler tanta virulência relevante nessa coletânea, começar uma incursão por sua obra literária e teatral será inevitável .
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THRILLER
Um ótimo roteirista que escreve ótimos livros
O neozelandês radicado em Londres Anthony McCarten é o que a gente pode chamar de um nome quente em Hollywood. Indicado quatro vezes ao Oscar, três filmes nos quais ele é o roteirista proporcionaram o prêmio de melhor ator na academia: “A Teoria de Tudo” (Eddie Redmayne), “O Destino de uma Nação” (Gary Oldman) e “Bohemian Rhapsody” (Rami Malek). Ele também escreveu o roteiro de “Dois Papas”, dirigido por Fernando Meirelles. Autor de romances e peças de teatro, ele tem agora lançado no Brasil “Protocolo Zero”, saindo pela Record. Aqui McCarten investe no thriller tecnológico, com uma história que tem ecos do mestre nesse subgênero, Michael Chrichton (“Jurassic Park”). Na trama, Cy Baxter é um pesquisador endeusado no Vale do Silício que desenvolve para a CIA um revolucionário programa de vigilância, capaz de monitorar qualquer pessoa no planeta. Como último teste, dez participantes vão desaparecer, orientados para jogar fora o celular, cortar contato com toda pessoa conhecida e fazer o que for necessário para não ser detectado. Durante um mês, equipes vamos tentar localizar cada participante. Caso todos eles sejam rastreados nesse intervalo, a CIA comprará o programa de Baxter por 9 bilhões de dólares. O ritmo na narrativa é ágil e eficiente. O leitor vai acompanhar essa caçada, e nela ganha importância a pessoa da qual os organizadores menos esperavam resistência, uma bibliotecária chamada Kaitlyn Day. Aos poucos, o leitor vai descobrir que ela tem motivações muito peculiares para estar no teste. O mais bacana é que, apesar da carreira bem-sucedida como roteirista, McCarten não tem o vício irritante de alguns autores que já escrevem pensando no enredo como algo a ser filmado, algo que prejudica as obras de nomes conhecidos como John Grisham ou Nicholas Sparks. Claro que “Protocolo Zero” já está nas mesas dos produtores em Hollywood, mas, antes de ser um potencial blockbuster, é uma narrativa literária sólida, envolvente e que carrega o mistério até o final. Entretenimento puro, mas de primeira qualidade.
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