TORPEDO Biblioteca # 19 – Rock e ativismo numa quase autobiografia
Serj Tankian, vocalista do System of a Down, tem seu livro de memórias lançado no Brasil enquanto sua banda faz shows no país
AUTOBIOGRAFIA
Quando o bom rock vira boa arma política
A popularidade do System of a Down no Brasil é inegável. O grupo americano de rock começa hoje em Curitiba uma nova turnê por aqui, que terá shows em São Paulo no fim de semana, no Allianz, e no dia 14, no Autódromo de Interlagos. À frente da banda, Serj Tankian, nascido em Beirute, filho de armênios e desde menino criado na Califórnia, usa guitarras em fúria para disparar letras de um ativismo constante. A questão do genocídio armênio foi o gatilho para empilhar rocks de impacto, que podem tratar tanto do 11 de Setembro quanto da questão dos refugiados. Estudante de administração e de direito, trocou a academia pelos palcos. Formado em 1993, o grupo gravou cinco álbuns até 2005, que venderam cerca de 40 milhões de cópias. Depois, entrou em recesso até 2020, quando voltou à estrada. Mas a parada da banda não diminuiu em nada o ritmo de atividade política de Tankian, e talvez ela seja tão importante quanto sua contribuição ao rock pesado. “Down with the System”, livro que vendeu muito nos Estados Unidos, sai no Brasil pela Buzz Editora, com uma boa oferta de fotos. Na capa, além do título, que pode ser traduzido pelo grito de guerra “Abaixo o sistema”, há a inscrição “Um livro de memórias (ou quase isso)”. Na verdade, é mais do que isso. Música e show business preenchem apenas uma parte de um fluxo desenfreado de ideias de um artista que parece questionar tudo, o tempo todo. Também pintor, poeta e cineasta, ele produziu inúmeros documentários. Tankian criou com Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine e do Audioslave, outro roqueiro com perfil contestador, a ONG Axis of Justice, que usa a popularidade dos músicos para impulsionar eventos e campanhas. Está tudo no livro, que tem o mérito de ser panfletário sem ser chato. Uma leitura recomendada até para quem nunca ouviu um acorde sequer do System of a Down.
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FICÇÃO CIENTÍFICA
Um robô assassino fissurado em assistir séries
Alguns críticos ranzinzas costumam dizer que tudo o que a literatura sci-fi pode fazer de melhor quanto aos robes já está nos romances de Isaac Asimov e nos replicantes de Philip K. Dick. Um exagero, claro. Há muita coisa legal nesse subgênero, e a antropóloga texana Martha Wells, 60, é responsável por ótimas páginas com os autômatos. A Aleph lançou agora no Brasil os dois primeiros volumes da série “Diários de um Robô Assassino”. No primeiro, “Alerta Vermelho”, que ganhou os prêmios Nebula, Hugo e Locus. ela apresenta o personagem de um robô concebido para matar. No entanto, não é lá um produto de muito boa qualidade. Ele consegue hackear o seu próprio sistema e mudar sua programação. Não no intuito de deixar de ser uma máquina assassina, mas para se transformar num viciado em séries de TV. Sim, o humor está presente na história. Mais ainda quando os humanos não conseguem deixar de cruzar o caminho desse nerd metálico. Em “Condição Artificial”, o segundo livro, ele vai se dedicar bastante a tentar esconder seu passado assassino, mas claro que memórias de atos um tanto abomináveis vão aparecer para assombrá-lo como fantasmas. A autora tem outros livros muito bons, e seu talento é farto nas histórias curtas, que ela publica em várias revistas por todo o planeta. Mas acompanhar as perambulações de seu peculiar robô assassino já é um passatempo muito divertido.
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TORPEDO Sebo é uma lista de livros, discos de vinil, CDs, Blu-ray e DVDs que eu estou colocando à venda, num exercício duríssimo de desapego. São mais de 1.000 itens, em ótimo estado. Quem quiser conferir o que está disponível deve mandar um e-mail para thales1962@gmail.com, e eu envio a lista para os interessados.
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BAHIA FANTÁSTICA
A prosa esperta e sem limites de Ian Fraser
O baiano Ian Fraser tem publicado seguidamente algumas das histórias mais curiosas de algo que se possa chamar de nova literatura brasileira. Basta conferir nos romances “Noir Carnavalesco” e “A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê”, que foi finalista no Jabuti. Ambos são boas introduções para um certo universo mágico que Fraser espalha em suas páginas. E o recém-lançado “Cartografia para Caminhos Incertos”, em edição da Intrínseca, talvez seja a melhor peça até agora desse experimentalismo delirante. Desta vez, ele cria uma cidade itinerante. Redenção vive em romaria. Nunca fica muito tempo parada no mesmo lugar. E lá vive o jovem protagonista, Mané. Ou pelo menos vivia, já que ele um dia ultrapassa os limites da cidade e não sabe mais como encontrá-la. Desesperado para voltar para casa e rever o namorado Jeremias, ele começa uma aventura por lugares que são tão malucos quanto Redenção. Algumas pessoas querem alinhar Fraser ao bom e velho realismo fantástico, que vaga pela literatura da América do Sul há décadas. Mas me parece uma proposta equivocada, porque não há nenhum realismo em “Cartografia para Caminhos Incertos”. Aqui o delírio está liberado, desde que sirva para criar grandes imagens e sequências para o leitor. Ian Fraser é um autor a ser seguido.
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QUADRINHOS
Uma edição caprichada de um mangá histórico
Mesmo quase 60 anos depois de sua publicação original, não existe nada no universo dos mangás que seja parecido com “Nejishiki”. Um dos primeiros e mais talentosos desenhistas dedicados aos mangás realistas para público adulto, Yoshiharu Tsuge, hoje com 87 anos, publicou de 1955 a 1987. Se seu traço é realista, suas ideias de enredos beiram o surrealismo. Em 1968, ele era um ídolo para a juventude japonesa. Combinava seus gibis incríveis com ensaios críticos, palestras e entrevistas que questionavam o movimento estudantil que eclodia pelo planeta. Foi neste ano que ele criou “Nejishiki”, a história de um jovem que viaja na busca da cura para um ferimento que não o abandona. As portas que se abrem para o garoto levam a lugares e personagens que compõem um mundo quase lisérgico. E as situações propostas carregam muitas maneiras de serem interpretadas.
Por décadas, “Nejishiki” foi longamente analisado por gente ligada ao mangá e também por psicólogos e sociólogos. Não é fácil chegar a uma conclusão que agrade a todos, e provavelmente era exatamente isso que Tsuge desejava. A obra chega numa bonita edição em capa dura da Veneta, obrigatória em qualquer boa biblioteca de mangá.
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