TORPEDO Som # 07 - O ótimo disco solo de Lauren Mayberry
Vocalista da banda escocesa Chvrches lança “Vicious Creature”, álbum no qual ela carrega ainda mais suas canções de manifestos feministas emoldurados por um pop divino
ROCK
Um resgate irresistível do melhor som dos anos 1990
Em algum ano indeterminado da já distante década passada, talvez 2013 ou 2014, o editor desta newsletter caminhava entre os seis palcos do festival Coachella, na Califórnia, quando foi atraído por uma vibração poderosa que emanava de uma das imensas tendas de palcos secundários. “Tenda” é modo de dizer. Cerca de 4.000 pessoas se acotovelavam debaixo da gigantesca lona, enquanto muitos preferiam ficar do lado de fora, ouvindo o som que vazava pelo gramado. O que se ouvia era uma versão animal de “Iron Man”, do Black Sabbath, pesadíssima e entrecortada por uma voz angelical. A banda era o trio escocês Chvrches, e a dona da voz era a diminuta Lauren Mayberry. Dificilmente alguém que acompanhou aquela performance incrível deixou de seguir nos anos seguintes os espertos álbuns de rock um tanto experimental do grupo. Lauren tinha passado por outras bandas anteriores, Boyfriend/Girlfriend e Blue Sky Archives, mas foi ao lado de Iain Cook e Martin Doherty que achou a formação ideal no Chvrches, num trabalho que atrai a turma do rock pesado mas preserva um pé no pop.
Depois do álbum mais recente do trio, “Screen Violence”, lançado em 2021 e atrapalhado pela pandemia, Lauren soltou no mês passado seu disco solo, “Vicious Creature”, um grupo de 12 faixas que parecem hits do melhor pop rock dos anos 1990 com momentos barulhentos aqui e ali. Feminista radical, ela anunciou o lançamento revelando uma lista de cantoras que considera “influências vitais” para o disso: Fiona Apple, Tori Amos, PJ Harvey, Annie Lennox, Jenny Lewis e Sinéad O’Connor. Certamente esse time aprovaria um punhado de potenciais hits. Já são cinco singles extraídos do álbum, todos com clipes: “Change Shapes”, “Something in the Air”, “Are You Awake?”, “Crocodile Tears” e “Shame”. Clique nos títulos para assistir. E é melhor não tentar resistir.
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GLAM ROCK
Voltando 50 anos no tempo, sem escalas
Quem é fã de classic rock deve agradecer a insistência de algumas bandas em permanecer presas ao som dos anos 1970. No caso da australiana Starcrazy, o quarteto está preso ao som, ao visual e ao estilo de vida dos roqueiros de outrora. Seja nas fotos ou nos clipes, parecem uns moleques que acabaram de sair de uma máquina do tempo. Marcus Fraser (vocal), Odin Wolf (guitarra), Jack Baratt (baixo) e Jack Farmer (bateria) eram adolescentes puristas do glam, aquele gênero andrógino de rock que borrou a separação entre meninas e meninos no início dos anos 1970, todos correndo atrás de David Bowie, Marc Bolan, Sweet e outros baluartes da época. Mas até eles chegarem ao primeiro álbum, “Starcrazy”, lançado em outubro, houve uma evolução musical que os levou a um hard rock clássico. Sem exagero, o quarteto parece uma versão renovada do Bad Company, de Paul Rodgers, um dos gigantes da primeira metade da década de 1970, mas com muito mais deboche. As músicas são uma melhor do que a outra. Clique nos títulos para conferir os clipes de “Nightime”, “I Ain’t That Crazy”, “Caught in a Dream (Again)”, “Hysterical” e “Whats It’s Worth”. E boa viagem no tempo!
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COVER DO MÊS
THE LAST DINNER PARTY – “Call Me”
Fazer cover nunca é fácil. Se é um grande sucesso, acusam a banda de querer ir por um caminho fácil. Se ficar muito diferente do original, vem a crítica de que não é certo, às vezes chega perto de uma heresia. Ou seja, se é para fazer um cover, é bom fazer direito. A banda de meninas britânicas The Last Dinner Party apareceu na TORPEDO # 14, em dezembro de 2023, numa nota que falava da grande expectativa por seu primeiro álbum, “Prelude to Ecstasy”, que sairia alguns meses depois. O grupo confirmou todas as apostas e o disco estourou. Elas foram convidadas pela rádio australiana Triple J para uma participação no programa “Like a Version”. A canção escolhida foi “Call Me”, que o Blondie gravou em 1980 e fez muito sucesso como música de abertura do filme “Gigolô Americano”, hit de bilheteria com Richard Gere. A versão do The Last Dinner Party é sensacional. A vocalista Abigail Morris canta muito! Clique aqui.
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CANÇÕES NOVAS QUE VALE A PENA OUVIR
THE DARKNESS – “I Hate Myself”
A banda britânica comandada pelo vocalista esquelético Justin Hawkins causou furor com seu álbum de estreia em 2003. Parecido com uma versão ainda mais pesada dos primeiros discos do Queen, nos quais a banda de Freddie Mercury se dedicava ao hard rock, o Darkness emplacou logo de cara um dos hits da década, “I Believe in a Thing Called Love”. A badalação em demasia criou conflitos na banda, que interrompeu atividades por cinco anos. Voltou em 2011 sem tantos sucessos, mas com uma legião de fãs. São esses que aguardam agora “Dreams on Toast”, oitavo álbum que sai nas próximas semanas. Para esquentar, rola o clipe de “I Hate Mysef”. Como é de se esperar quanto se trata do Darkness, é uma paulada. Clique aqui.
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BRUTUS - “Paradise”
Está demorando demais o estouro do trio Brutus para o grande público. Formado na Bélgica em 2014, o diferencial do grupo que faz hard rock, mas muitas vezes ultrapassando a linha divisória para o heavy metal, é a baterista Stefanie Mannaerts, que escreve as letras e canta todas as músicas. Seus comparsas na estrada e nos estúdios são o guitarrista Stijn Vanhoegaerden e o baixista Peter Mulders. Caçar nas redes trechos de shows do Brutus é a melhor dica. Ou então conferir “Paradise”, single mais recente. Depois de fazer isso, é mais difícil ainda entender por que o sucesso ainda não encontrou Stefanie e seus amigos. Clique aqui.
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CLOTH - “Polaroid”
Cloth começou em Glasgow, na Escócia, em 2016, com a cantora Raquel Swinton dividindo as guitarras com Paul Swinton, ambos ajudados pela baterista Clare Gallagher, que não faz mais parte do projeto. Segundo oficialmente como dupla, eles exibem um dream pop bacana, mesclando melodias etéreas características do gênero com algumas batidas mais aceleradas e ás vezes até pesadas. São dois álbuns até agora, “Cloth” (2019) e “Secret Measure” (2023), mas a novidade é o single “Polaroid”, pegajoso para fazer sucesso por aí. É uma dupla para acompanhar. Clique aqui.
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